A pergunta que não quer calar

Na última quinta-feira, dia 07 de abril, pela manhã fui assistir ao noticiário, enquanto me preparava para ir ao trabalho.
Ao ligar a TV, logo fui impactada com as notícias de um atirador na Escola Municipal em Realengo, no Rio de Janeiro.
Naquele momento, ainda não se tinha informações exatas quanto ao número de estudantes feridos ou mortos. No entanto, já era previsto que algo muito grave havia acontecido ali.
Fiz o percurso até o trabalho, lembrando dos casos semelhantes ocorridos pelo mundo afora, a exemplo de “Columbine”, em 1999, nos EUA.
Embora se saiba que tragédias desse porte não são recorrentes no Brasil, vem a pergunta: “Atos insanos, dessa natureza, estariam se tornando “globalizados”?
Esta não é a única pergunta que não cala. Desde  a última quinta-feira, todos temos nos perguntado o porquê de um jovem ter planejado a morte de adolescentes inocentes, que nenhum mal lhe causaram?  Estaria o atirador sofrendo de algum surto esquizofrênico?  Faria parte de algum grupo extremista? Teria sido vítima de bullying? Muitas perguntas...
Aliás, o foco da maioria das reportagens tem sido explorar o passado e a personalidade do atirador, como forma de dar respostas aos telespectadores da motivação de sua conduta homicida.
De todo esse burburinho, após o zunido dos projéteis, após o choro dos familiares das vítimas, o que me parece mais perturbador é o silêncio.
Silêncio das vítimas, emudecidas de forma tão brutal e precocemente.
Quanto dor pode caber no silêncio? 
Posso imaginar essas mães, num quarto vazio. Onde antes se ouvia risadas, a música de Demi Lovato tocando sem parar, o constante aviso sonoro do MSN no computador, os cochichos das meninas no quarto... Agora, somente o silêncio.
A porta fechada até pode dar a impressão de que nada mudou. Talvez elas estivessem ali ainda? Mas, não há como se enganar.  O silêncio grita.  Escancara a ausência.  O vazio.
De igual forma, é terrivelmente incômodo o silêncio deixado pelo atirador. Guardou para si as respostas às perguntas que continuam a ecoar na mente dos pais das vítimas,  e de todos aqueles, que - assim como eu- , viram-se estarrecidos com tamanha violência na manhã de quinta-feira.
Ao tirar a própria vida, calou todos os possíveis apelos por Justiça. Não haverá acusação, processo, júri ou prisão. Não haverá explicação, justificativa,  defesa. Morto está.  Tomou para si a espada da justiça e auto-executou a pena.  Agora,  apenas o silêncio. Literalmente sepulcral.
De tudo isso, o que mais me preocupa é o efeito viral que atos dessa natureza, por vezes, produzem.
Pessoas que, de alguma forma, se identificam com o atirador, o veem como mártir, uma pobre vítima de um sistema perverso. Observando a excessiva exposiçao do caso na mídia,  supõem que poderiam alcançar a mesma projeção ao imitá-lo.
Daí o consequente medo generalizado de que os massacres se repitam pelas escolas e universidades Brasil afora.
E esse medo não é infundado, diante da facilidade de se obter ilegalmente uma arma no Brasil, apesar das disposições do Estatuto do Desarmamento.
Não se pode perder de vista que parte das armas que chegam às mãos dos criminosos, na verdade, foram compradas por cidadãos brasileiros que entendem legítimo o seu direito de defesa pessoal ou patrimonial.
Contudo, em alguns casos,  as armas guardadas nas casas desses cidadãos do bem, são subtraídas ou furtadas, sem qualquer comunicação às autoridades públicas,  ante o receio que de sejam responsabilizados pela posse ilegal de arma de fogo.
Outros, por descuido, deixam a arma ao alcance de seus filhos menores, que influenciados pela violência cotidiana, armam-se e vão para escola dando azo a tragédias decorrentes de disparos acidentais ou intencionalmente provocados.
Por isso, o renascimento do debate sobre o desarmamento da população.
Diante de tanto silêncio perturbador, agora as vozes clamam em uníssono por formas de prevenção.
Haverá alguma forma de prevenir atos violentos dessa natureza?
Essa é a pergunta que realmente não poderá calar.








Comentários

  1. Como sempre, mais uma crônica excelente, que toca fundo em meus pensamentos. Parabéns. Ricardo Schwertner.

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