Copos boêmios
Fátima, minha fiel escudeira nas lides domésticas, bate a porta atrás de si na sexta-feira e só retorna na segunda.
Basta que ela se despeça, e logo começa a epopeia dos copos.
É como se eles, de um momento para o outro, adquirissem pernas. Começam a se espalhar pela casa. Surgem misteriosamente nos mais variados cômodos da casa.
Sábado pela manhã, como boêmios que passaram na farra, encontro-os pelas salas e quartos. Sempre com um restinho de líquido no fundo, delatando o companheiro da madrugada.
Se for Coca-Cola, é presunção absoluta de culpa do meu marido. Este "cocólatra" assumido, antes mesmo de começar o interrogatório, e sem rodeios, confessa sua culpa. No entanto, larga-os na pia, na expectativa que se tornem autolimpantes. Nem sequer espera o milagre acontecer. Na primeira necessidade, abre o armário e pega outro limpinho. E o monte só vai aumentando na pia.
O fundo açucarado denuncia minha filha adolescente, sobretudo se outras provas estiverem presentes na cena do "crime": notebook, telefone celular, fone de ouvido etc.
Basta que ela se despeça, e logo começa a epopeia dos copos.
É como se eles, de um momento para o outro, adquirissem pernas. Começam a se espalhar pela casa. Surgem misteriosamente nos mais variados cômodos da casa.
Sábado pela manhã, como boêmios que passaram na farra, encontro-os pelas salas e quartos. Sempre com um restinho de líquido no fundo, delatando o companheiro da madrugada.
Se for Coca-Cola, é presunção absoluta de culpa do meu marido. Este "cocólatra" assumido, antes mesmo de começar o interrogatório, e sem rodeios, confessa sua culpa. No entanto, larga-os na pia, na expectativa que se tornem autolimpantes. Nem sequer espera o milagre acontecer. Na primeira necessidade, abre o armário e pega outro limpinho. E o monte só vai aumentando na pia.
O fundo açucarado denuncia minha filha adolescente, sobretudo se outras provas estiverem presentes na cena do "crime": notebook, telefone celular, fone de ouvido etc.
O danado do copo retorna para cozinha com um pouco mais de lentidão: "Mamãe, já vou!". Passados alguns minutos, a mesma resposta: " Mamãe, 'tô' indo!". E lá se vão mais algumas horas, enquanto o açúcar vai cristalizando. Até que eu mesma, impaciente, resolvo o caso com uma busca e apreensão.
Ao despontar o domingo, abro o armário da cozinha e tenho a impressão de que todos os copos foram sequestrados. Somem. Ocultam-se. Suponho, então, que estejam de ressaca, largados em algum canto da casa.
Copos sempre foram um problema de final de semana. Não adianta nem baixar portaria estabelecendo regras. Usa-se uma vez e, logo, se busca outro, e outro. Até que não haja mais nenhum limpo, disponível no armário.
Ao despontar o domingo, abro o armário da cozinha e tenho a impressão de que todos os copos foram sequestrados. Somem. Ocultam-se. Suponho, então, que estejam de ressaca, largados em algum canto da casa.
Copos sempre foram um problema de final de semana. Não adianta nem baixar portaria estabelecendo regras. Usa-se uma vez e, logo, se busca outro, e outro. Até que não haja mais nenhum limpo, disponível no armário.
E quem se candidata para a lavagem? Ninguém. Até entendo. Domingo é um dia preguiçoso. Não combina com ficar na pia da cozinha, molhando a barriga, ensaboando pilhas de copos.
Em razão disso, no passado recorri aos copos descartáveis, mas minha consciência ecológica me acusou seriamente, e retornei ao uso de copos de vidros.
Periodicamente compro copos para repor o estoque daqueles que desaparecem. Constato as 'baixas, todavia, raramente são localizados os seus restos. O fato é que nem sempre o crime é perfeito e, por vezes, já encontrei os cacos - do que um dia tinha sido um belo exemplar - "desovados" no cesto do lixo. Nesses casos, raramente se obtem uma confissão. Ninguém se responsabiliza pelo dano. Por falta de provas, arquiva-se o caso.
Conformo-me usando a sabedoria baiana de uma amiga: "Copo de vidro é para quebrar, se não fosse seria de ferro, de plástico, de qualquer material que não se quebra". E quebra mesmo, na maioria das vezes, sem dolo ou intenção de dano.
Em razão disso, no passado recorri aos copos descartáveis, mas minha consciência ecológica me acusou seriamente, e retornei ao uso de copos de vidros.
Periodicamente compro copos para repor o estoque daqueles que desaparecem. Constato as 'baixas, todavia, raramente são localizados os seus restos. O fato é que nem sempre o crime é perfeito e, por vezes, já encontrei os cacos - do que um dia tinha sido um belo exemplar - "desovados" no cesto do lixo. Nesses casos, raramente se obtem uma confissão. Ninguém se responsabiliza pelo dano. Por falta de provas, arquiva-se o caso.
Conformo-me usando a sabedoria baiana de uma amiga: "Copo de vidro é para quebrar, se não fosse seria de ferro, de plástico, de qualquer material que não se quebra". E quebra mesmo, na maioria das vezes, sem dolo ou intenção de dano.
Minha mãe, toda vez que vem nos visitar, sempre quebra um copo. Não que isso seja uma tradição familiar. Acredito que é por azar mesmo. Em cada visita, um copo a menos.
Dessa vez ela bateu o recorde. Desceu do carro, chegando de viagem, e foi tomar água. Não demorou para ouvirmos o "crack". Estando previsto no "script", nem me surpreendi. Afinal, o que é um copo comparado ao amor de uma mãe que vem de tão longe visitar a filha.
Além do mais, tenho debitados na minha conta muitos copos, taças e pratos quebrados na infância.
Essas pequenos delitos não têm prescrição ou decadência. Basta a família reunir que vem um com a frase: " Vocês lembram aquela vez...".
Dessa vez ela bateu o recorde. Desceu do carro, chegando de viagem, e foi tomar água. Não demorou para ouvirmos o "crack". Estando previsto no "script", nem me surpreendi. Afinal, o que é um copo comparado ao amor de uma mãe que vem de tão longe visitar a filha.
Além do mais, tenho debitados na minha conta muitos copos, taças e pratos quebrados na infância.
Essas pequenos delitos não têm prescrição ou decadência. Basta a família reunir que vem um com a frase: " Vocês lembram aquela vez...".
Uma das histórias prediletas é contarem quando "destrocei", literalmente um aparelho de jantar da minha mãe.
Eu tinha uns onze anos de idade e resolvi carregar meu irmão de um ano nas costas. Era um sábado e a mesa estava pronta para servir o almoço. Coloquei o Marcus em cima da mesa e ajeitei as perninhas dele nos meus ombros. Entretanto, não havia reparado a ponta da toalha presa entre as pernas dele.
Segui em frente, em direção ao corredor, saltitando com ele na garupa. Imediatamente ouvi um "crack". Girei o corpo para trás a fim de conferir o que tinha quebrado e, no mesmo instante, juntamente com a toalha, veio todo o resto da louça que cobria a mesa. Não é preciso dizer que, de uma só "tacada", quebrei todo o aparelho de jantar da minha mãe, sem mencionar nos copos e taças. Tive que ouvir o lamento por meses, escapando de levar uma surra por falta de intenção de provocar o dano.
Eu tinha uns onze anos de idade e resolvi carregar meu irmão de um ano nas costas. Era um sábado e a mesa estava pronta para servir o almoço. Coloquei o Marcus em cima da mesa e ajeitei as perninhas dele nos meus ombros. Entretanto, não havia reparado a ponta da toalha presa entre as pernas dele.
Segui em frente, em direção ao corredor, saltitando com ele na garupa. Imediatamente ouvi um "crack". Girei o corpo para trás a fim de conferir o que tinha quebrado e, no mesmo instante, juntamente com a toalha, veio todo o resto da louça que cobria a mesa. Não é preciso dizer que, de uma só "tacada", quebrei todo o aparelho de jantar da minha mãe, sem mencionar nos copos e taças. Tive que ouvir o lamento por meses, escapando de levar uma surra por falta de intenção de provocar o dano.
Atualmente, nosso armário de cozinha lembra muito um antiquário. De tanto quebrar copos, alguns vão ficando sem parceiros. Viúvos. Divorciados. São copos e taças esquecidos no fundo do armário. Somente lembrados somente em último caso, especialmente aos domingos.
Agora com os gêmeos, copinhos de plástico, decorados com bichinhos, também passeiam pela casa. Se bobear, aparecem até nos banheiros.
Nesses dias de perna quebrada, os copos receberam salvo-conduto. Andam livres e soltos pela casa, sem nenhuma restrição. Passe livre para os boêmios.
Agora com os gêmeos, copinhos de plástico, decorados com bichinhos, também passeiam pela casa. Se bobear, aparecem até nos banheiros.
Nesses dias de perna quebrada, os copos receberam salvo-conduto. Andam livres e soltos pela casa, sem nenhuma restrição. Passe livre para os boêmios.
Toque de recolher temporariamente suspenso, pelo menos até a manhã de segunda-feira. E que chegue logo o bendito dia, me trazendo a minha Fátima de volta.
Oi Lisandre, quanto tempo, saudade de vocês!! Bom, tenho a dizer em dialeto sulista, que "tu tens escritos bem as pampas, guria!!" Li vários textos e adorei todos e me diverti muito com suas histórias, no entanto, me identifiquei muito com este dos copos, porque aqui em Uberaba, cidade que lhe muito tem apreço, os copos também andam e pior depois de uma longa jornada não se limpam, acabando por encontrar outros em mesma condição em uma pia a espera de um milagre, que geralmente demora a acontecer. Bom, nem sabia que havia quebrado a perna, ainda mais de maneira tão abrupta como ocorreu, espero que esteja melhor. Bom, termino pedindo para que escreva uma crônica dos dias que esteve em Uberaba, para que possamos relembrar juntos. Um abraço a todos. Renato Mendonça Costa
ResponderExcluirOi, Renato!
ResponderExcluirFico feliz com teu comentário. Mas, muito mais por te reencontrar, ainda que apenas virtualmente. Eu e o Ricardo tb temos muitas saudades de vcs aí de Uberaba. Foram momentos muito bons e divertidos.
Com a perna quebrada, tenho tido tempo e até um pouco mais de inspiração para escrever. Para falar a verdade, já tenho um texto, mencionando um caso daí de Uberaba, só ainda não publiquei. Temos muitos momentos memoráveis aí.
Um grande abraço,
Lisandre.