Felicidade: Onde encontrar?
Estou lendo "Felicidade", de Eduardo Giannetti. Na minha estante, podem-se encontrar vários livros sobre o mesmo tema, de diversos autores.
Preciso entender a felicidade, não apenas tomá-la nas mãos. Sem entendê-la, corremos o risco de deixá-la passar, sem reconhecer o que realmente nos faz felizes.
Mudança e Expectativas
Mudamos para Três Corações cheios de boas expectativas. Não sabíamos o que essa mudança representaria para nossas vidas. Admito que, por ser um caminho sem retorno, tive medo do arrependimento.
Percebo, muitas vezes, a tendência de olhar para o passado como se a "Era de Ouro" estivesse sempre atrás de nós. Temos a ilusão de que a felicidade está onde não estamos ou onde não podemos mais chegar. Como bem aponta Giannetti:
"Uma coisa é certa: o propósito terreno das pessoas de carne e osso, em qualquer lugar do planeta, é alcançar a felicidade e fazer o melhor de que são capazes em suas vidas."
Com esse propósito, resolvi buscar novos horizontes. Imaginei que viver em uma cidade com mais recursos e qualidade de vida me faria bem. Eu queria tempo para meus filhos, queria poder levá-los ao playground ao entardecer. Só isso já me faria feliz.
Desafios Profissionais e Felicidade
Mudei também pensando em cuidar de mim mesma: poder praticar atividades físicas, investir na saúde e, quem sabe, ter uma velhice mais digna. Mas o que encontrei foram pilhas de processos e, por trás deles, pessoas angustiadas aguardando decisões judiciais.
Observando meu gabinete abarrotado de processos, lembrei do mito de Tântalo, da mitologia grega, que fala sobre uma sede e fome insaciáveis. Em nosso trabalho, a cada resolução, parece que novos desafios surgem, assim como Tântalo nunca conseguia alcançar o alimento e a água.
Como disse Bauman:
"A mensagem do mito de Tântalo é de que você só pode continuar feliz enquanto mantiver a inocência, ignorando a natureza das coisas que o fazem feliz sem tentar mexer com elas."
Sou responsável por aqueles que aguardam decisões. Tomar os problemas alheios nas minhas mãos significa muitas vezes postergar a própria felicidade.
A Realidade do Cotidiano no Judiciário
No cotidiano do juiz, os problemas se transformam, mas não diminuem. Antes, em Buritis, a minha preocupação eram as questões dos réus presos, greves de fome e a internação de adolescentes em conflito com a lei. Hoje, lido com ações de natureza cível, igualmente importantes e desafiadoras.
Há momentos em que precisamos tomar fôlego e encontrar atalhos para agilizar a justiça. Contudo, muitos obstáculos se apresentam, e quebrar paradigmas nunca é uma tarefa fácil.
Saúde Mental e a Dor Invisível
Há um ano, fui hospitalizada em Brasília e me deparei com uma situação comum: uma enfermeira perguntava mecanicamente qual era o nível da minha dor física, de 0 a 10. Mas como quantificar a dor de perder a autonomia e depender dos outros?
A dor da alma é invisível, mas não menos real. Talvez, naquele momento, eu precisasse de um olhar mais atento, que visse além da fratura.
Empatia e Esperança
Evitar olhar o problema do outro nos permite manter uma falsa paz de espírito. Contudo, depois que a consciência sobre o problema é clara, não há como ignorá-lo. Por isso, continuo tentando resolver os problemas que estão ao meu alcance, mesmo que me faltem recursos para atender a todos da forma que gostaria.
Recentemente, ao finalizar uma audiência, a autora me disse, com lágrimas nos olhos: "Depois de tanto tempo, só tenho que lhe agradecer por me devolver a esperança". Pode parecer pouco, mas, quando não se tem mais nada, a esperança é o que nos impulsiona a seguir.
Admito que há momentos em que me sinto remando sem sair do lugar. Mas tenho esperança de que bons ventos venham soprar e que eu consiga ver o fruto do meu trabalho.
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Leia mais:
"Felicidade" de Eduardo Giannetti: Este livro oferece uma análise filosófica sobre a busca da felicidade na sociedade contemporânea. Companhia das Letras
"Comunidade: A Busca por Segurança no Mundo Atual" de Zygmunt Bauman: Bauman explora o conceito de comunidade e a incessante busca por segurança na modernidade líquida. Cajapió
Resenha sobre "Comunidade" de Zygmunt Bauman: Uma análise crítica que aprofunda os conceitos apresentados por Bauman. Postliteral
"Felicidade: Diálogos Sobre o Bem-Estar na Civilização" de Eduardo Giannetti: Uma discussão aprofundada sobre as diferentes perspectivas da felicidade na sociedade moderna. Google Livros
Artigo sobre Bauman, modernidade líquida e identidade: Explora as ideias de Bauman sobre a fluidez das identidades na sociedade contemporânea. Studocu
"Modernidade Líquida e Liberdade Consumidora: O Pensamento Crítico de Zygmunt Bauman": Uma análise das críticas de Bauman à sociedade de consumo e à modernidade líquida. Academia
"Felicidade: Reflexões de Eduardo Giannetti": Uma resenha que oferece insights sobre as reflexões de Giannetti acerca da felicidade. Digestivo Cultural
Bom texto! Parabéns!!!Mas, quando não se tem mais nada, a esperança é o que nos dá força para prosseguir.².
ResponderExcluirObrigada, Taine Martins! Que essa esperança nos dê realmente força para todas as coisas. Abraços, Lisandre.
ResponderExcluirBom texto, muito bom o seu blog, acessar mais vezes,obrigado.
ResponderExcluirPor mais que tentemos descrever este sentimento, este estado, esta sensação, jamais conseguiremos alcançar sua plenitude em nós...
ResponderExcluirBelo texto. Também gosto de ler sobre este TEMA.
Abraços
Olá, Lisandre
ResponderExcluirPassando por aqui li este texto lindo.
Só quero-lhe dizer que você é forte ,e tem tantos trabalhos importantes a realizar. Desejo que essa mudança lhe faça bem. Quanto à felicidade, de vez em quando ela nos acena de uma janela, de uma nuvem, de uma estrela... Sentimo-la ainda que distante. Ela é sempre esperança.
Abraço,
Aureliano.