Compre uma família feliz
Todos já devem ter percebido. Caiu no gosto dos brasileiros os adesivos com desenhos representando suas famílias, colados na traseira dos carros.
Os desenhos representam casais de mãos dadas com ou sem filhos. Outras, contavam com os avôs, gatos, cachorros e até papagaios. Pais ou mães com seus filhos, sem um(a) parceiro(a) ao lado.
Num posto de gasolina, podiam-se adquirir os mais variados “bonequinhos”. Como marketing de venda anunciava-se: “COMPRE AQUI SUA FAMÍLIA FELIZ”.
Não há dúvida, todos desejamos uma “família feliz”. Contudo, o mais impressionante é a tremenda necessidade de “mostrar” essa “família feliz”. Todos torcendo pelo mesmo time, felizes... Tremendamente felizes.
Os adesivos da “família feliz” evidenciam o quanto precisamos nos revelar aos outros, seja pelas redes sociais, blogs etc. Visibilidade é a ordem do dia. E não é apenas isso, precisamos nos mostrar indiscutivelmente bem: bonitos, sarados, viajando o mundo etc. Podemos, realmente, comprar tudo isso (se nosso contra-cheque o permitir). Mas, seria possível “COMPRAR A FAMÍLIA FELIZ”?
Outro dia, parada num semáforo vi um carro preto, mais uma vez, com um desses desenhos engraçadinhos, colado na traseira do veículo. Chamou-me a atenção o solitário homenzinho. A poeira acumulada, porém, revelava a silhueta de uma “bonequinha” e de um cachorro, que, provavelmente, em algum momento, estiveram ali de mãos dadas.
Não pude conter a curiosidade. Então, ao ultrapassarmos o veículo, olhei para o motorista, sendo um jovem de uns 30 e poucos anos. Pelo adesivo solitário, cogitei que talvez tenha sofrido o fim de um relacionamento. Talvez quisesse deixar claro o fato de estar disponível, novamente no “mercado”. Demonstrava também que ela, na separação, lhe levou até o cachorro (quem sabe também a casa, apartamento, os CD’s prediletos etc.). Ficaram as marcas de cola e poeira no carro. Toda separação deixa suas marcas.
Através do simples adesivo ele escancarava que a solidão também é um estado civil, seja voluntário ou involuntário. Declarava-se solteiro, separado ou divorciado.
Já houve tempo em que lamentava os divórcios que decretei. A sentença assinada era o atestado da falência conjugal. Mas, também, representava o fim de brigas intermináveis, sofrimento dos filhos, violência doméstica etc. Obviamente, se chegaram até a sala de audiências, muita coisa já havia se perdido: amor, paixão, e, principalmente, o respeito. A sentença poderia ser a carta de alforria que alguém esperava há anos para seguir em frente.
Hoje, não lamento os divórcios homologados. Preservadas os interesses das crianças, “bato o martelo”, desejando aos divorciandos que sejam felizes.
Não creio que seja viável a “compra” de uma família feliz, isso se constrói com o tempo, acrescido de uma boa dose de compreensão, companheirismo, amor e tolerância (ah... e quanta tolerância).
Se pudesse diria ao “homenzinho solitário” que batesse a poeira, lavasse a cola – enfim, que seguisse sua vida. No curso normal das coisas, com sorte, haveria de aparecer uma nova “bonequinha”, com a promessa de uma família bem mais feliz.
Muiiiitoo boomm!!!
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