Josef k. me entenderia


Ulisses Guimarães dizia: '"O dia do benefício é a véspera da ingratidão'". Sou grata. Grata a cada um que se mobilizou. Tomou coragem e postou um breve comentário sobre a polêmica matéria do Fantástico. Obrigada. Vocês  não sabem o bem que me fizeram.  Obrigada, também, aos  colegas mineiros que através de e-mail's e telefonemas, manifestaram apoio, transmitindo mensagens de força e ânimo. Realmente, cada palavra veio como um bálsamo.  Um curativo. Água para um sedento.
Se eu estou chorando? Ah, desculpem, não consigo esconder os olhos marejados. Outro dia, um amigo disse que não sei disfarçar emoções. (Tens razão, Paulinho, meus olhos sempre dizem tudo...).
Esses breves comentários, me tocam, me enternecem. Vêm de amigos, colegas, servidores, pessoas que me conhecem no dia-a-dia, mas também de pessoas que nunca vi pessoalmente, de vários lugares do país. Desses desconhecidos tão solidários,  recebo seus comentários como se fosse um abraço. Caloroso abraço. Tive até a impressão de conhecê-los de longa data. Tão próximos. Tão íntimos.
Sim, todos os comentários que chegam estão sendo publicados, sejam favoráveis ou desfavoráveis. Afinal, esta  a proposta do blog, travar um diálogo com quem por acaso passasse por essa página. Sei na carne o que é ter a fala cortada, tolhida. Jamais faria isso com algum leitor.
De fato, o blog tornou-se um espaço muito oportuno no momento em questão.
Ainda que eu pensasse que meus posts ficassem meio que escondidos nesse grande universo da web, de repente, me deparo com estatísticas de muitos acessos, de várias partes do Brasil e do mundo. Vocês nem imaginam! Eram 21h30 de domingo, e cento e poucas pessoas já acessavam o blog. Daí resolvi postar algo sobre o assunto.  Comentar o caso, ainda que duvidando que pudesse reverter os efeitos colaterais da reportagem “fantástica”.
O blog foi o principal mecanismo de diálogo entre mim e o público que assistiu a reportagem (ou que a leu em alguma outra mídia), logicamente atordoado com uma decisão “aparentemente” tresloucada de uma juíza.
Quanta ingenuidade da minha parte. Sabem, imaginei que os textos postados estivessem bem escondidinhos. Confesso-lhes, era apenas o meu monólogo. Conversa com o espelho.
Para minha surpresa, minutos após a dita (ou maldita) reportagem, as estatísticas de acessos começaram a crescer cada vez mais. Pensei: “Quem seriam?” -  “Talvez quisessem saber mais sobre a tal juíza (mal) falada no fantástico”.
Ainda incrédula, vi que  havia vida atrás do espelho. Muitas vidas.
Gente sensata.  Pessoas que compreendiam que sempre por trás de uma reportagem jornalística está o filtro do editor.  E é esse o olhar que determina quem ficará em primeiro plano. Cidadãos que percebiam que nesse grande sistema, que é a mídia de massa, há o manifesto interesse de ganhar audiência, uns pontinhos a mais no IBOPE etc. etc.
Nossa!  Quanto poder há em uma câmera... Poder de construir ídolos e de destruir reputações.
Colocando a minha “caneta” nessa perspectiva, veja-a tão pequena.
O que me dói em tudo isso é o papel que me foi imposto. sem que eu o pedisse ou autorizasse. Se fugisse da entrevista, com certeza, passaria aos telespectadores a impressão de quem deve, teme, por isso se esconde. “Dei a cara para bater”, intuindo, desde o início, o objetivo da matéria: atingir a vidraça do Poder Judiciário.
Vivo dias de um processo kafkiano. Josef k. me entenderia. A culpa foi-me imposta inexoravelmente. Roubaram-me a fala.  Senti-me num pesadelo, daqueles que a gente tenta gritar e a voz não sai. Amordaçada, quem poderia me ouvir?
Embora simbolizada por uma mulher, com os olhos vendados, a Justiça, a qual eu represento, não cerra os olhos aos desvalidos, aos mais fracos ou vulneráveis. Tenho um compromisso com a norma jurídica, mas preciso lhe dar forma. Contornos variados, contextualizando-a ao caso concreto. E foi o que fiz, e não me arrependo.
Paro um pouquinho de escrever. Imperdível ver a Helena, minha pequena de 1 ano e 3 meses,  aqui ao meu lado, brincando  de esconde-esconde com o espelho. Ela grita: "Aha!!", e assim repete toda vez que vê sua própria imagem.  Olha atrás e não encontra a criança que lhe imita os gestos. Divirto-me vendo isso. Sua ingenuidade. Sua pureza. Essas crianças...
Enfim, fiquei feliz de encontrar amigos atrás do espelho, por isso não poderia deixar de agradecer-lhes:


AGRADECIMENTOS:
Aramis Neto, amei o poema citado. Perfeito para o momento que vivo.
Ana Paula, saiba que chorei aos cântaros ao ler tua mensagem.
Janaína, querida colega de magistratura, tuas palavras me deram força para continuar subindo a montanha. Minha admiração por ti cresce cada dia mais.
Flavita e Franciele, minhas queridas servidoras, o apoio incondicional de vocês é muito importante para mim. Obrigada, de coração.
Eduardo Jobim: Quanto tempo! Ótimo te encontrar e obrigada pela força.
Mocam, deste-me força para suportar as pedradas.  A vidraça quebrou, mas já mandei trocar, viu? (rsrsrs). Fraterno abraço,
Iceman, tuas palavras não negam tua condição de um Lorde. Não desista do concurso, terei orgulho de ser tua colega.
Thiago, estudo e perseverança: eis a receita para o ingresso na magistratura. Tua hora chegará, com certeza. Basta não desistir. Obrigada, pelo apoio.
José Ricardo, obrigada pela mensagem e pela compreensão da minha luta no desempenho de tantos papéis: mãe, esposa, servidora pública etc. Tudo tão difícil de administrar.
Ricardo, meu marido. Obrigada por dividir e suportar comigo essa zona de turbulência. Te amo, muito.
Aos anônimos, igualmente obrigada.

Grande abraço,

Lisandre.

Comentários

  1. Lisandre,

    Não é de hoje que a imprensa abandonou a informação isenta e passou a distribuir estas manchetes no melhor estilo "pão e circo"!!

    Não se entristeça com o ocorrido, o lado bom destas notícias é que elas caem no esquecimento com a mesma velocidade com que aparecem.

    O magistrado deve sempre se manifestar de acordo com as suas convicções. E foi isto que você fez!!

    Quem não gostar... que recorra!!

    Abraços

    Anselmo Hess, de Blumenau/SC

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  2. Ricardo disse:

    Todos nós já tivemos, de uma maneira ou de outra, experiências difíceis na vida. Isto faz parte de nossa vida aqui na Terra, e embora muitas vezes pensamos que “as coisas podiam ter acontecido de outra maneira” - o fato é que não podemos mudar nosso passado. Por outro lado, é uma mentira pensar que tudo que nos acontece tem o seu lado bom; existem coisas que deixam marcas muito difíceis de superar, feridas que sangram muito. Como, então, nos livrarmos de nossas experiências amargas? Só existe uma maneira: vivendo o presente. Entendendo que embora não possamos mudar o passado, podemos mudar a próxima hora, o que acontecerá durante à tarde, as decisões a serem tomada antes de dormir.
    Um beijo. Ricardo

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